22/09/2023
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    ONDE ESTÁ O LOBBY DA BIKE?

    Texto por: Bernardo Oliveira

     

    Nos últimos dias recebi algumas cobranças sobre um posicionamento com relação ao recentes acidentes com ciclistas em BH e região. Como pra mim não adianta fazer videozinhos emocionantes, eu fui atrás de evidências e dados que pudessem auxiliar a busca de algumas soluções e achei alguns dados interessantes…

     

    • O número de praticantes de ciclismo tem uma taxa prevista de crescimento anual de 8,2% no mundo. Com a maior preocupação com o meio ambiente e mais incentivos de governos e cidades a políticas verdes, mais pessoas vão aderir ao ciclismo como meio de transporte.
    • 40% de todas as bicicletas vendidas no mundo são bicicletas exclusivas para estrada.
    • Estima-se que o Brasil tenha a sexta maior frota de bicicletas no mundo com 70 milhões de bikes.
    • Somos um país com uma mortalidade de ciclistas 3 vezes maior que a Alemanha, matando 3,75 ciclistas por dia.

     

    O problema de acidentes entre bicicletas e veículos automotores não é unicamente brasileiro, no canadá e na Europa o maior percentual de acidentes envolvendo bikes, envolve também um segundo agente, em sua maioria carros. Por isso muito dos artigos sobre o tema tratam exclusivamente dessa relação carro-bike e sem uma solução milagrosa, aqui estão as melhores ações e fatos que encontrei sobre o tema:

    • Velocidade nas vias: Muitas vias usadas por ciclistas possuem limite de velocidade de 80-110km/h. Essa velocidade aumenta a mortalidade em uma colisão em 16x se comparado a um acidente ocorrendo a 30km/h.
    • Sinalização: Não é novidade que a sinalização nas nossas vias é pífia e não tem a devida manutenção ao longo do tempo. Isso faz com que faixas no asfalto fiquem apagadas por bons tempos, acostamentos deixem de existir resultando em mais margem para imprudência no trânsito.
    • Mentalidade e educação: Nas vias brasileiras a prioridade é sempre do carro, somos um país pró carro (since JK) e isso está enraizado na nossa cultura. Algo que dificulta muito o respeito no trânsito e o entendimento que o trânsito é formado de caminhões, carros, motos, bicicletas e pedestres. Em comparação, na Holanda há rodovias compartilhadas entre motoristas e ciclistas em que o carro é apenas um convidado e a prioridade é sempre da bicicleta com sinalização devida para isso.
    • Ciclovias: Possuímos perto de 4mil km de ciclovias nas capitais brasileiras enquanto a nossa malha rodoviária é a quarta do mundo de 1.720.700km. Por outro lado, a Holanda possui 35mil km de ciclovias e uma malha total de 140mil km de estradas.

     

    As cidades e governadores não tem noção dos benefícios da bike para as cidades. Uma pesquisa feita em UK em 2016 listou alguns do benefícios de ser uma cidade pró bike:

    • Com mais bikes nas ruas e menos carros, a necessidade de manutenção das vias é muito menor devido a própria carga exercida sobre o asfalto, ou seja, menos verba para ações corretivas;
    • Com mais pessoas pedalando, menos doenças relacionadas ao sedentarismo aparecerão e menos oneração do sistema de saúde existirá.
    • Com mais ciclistas nas vias com a devida sinalização, maior será a atenção dos motoristas sabendo que em determinada região há um maior número de ciclistas.
    • Nem precisamos falar sobre a redução na emissão de gases na cidade;
    • Há indícios de que a produtividade das pessoas aumenta, por gerar menos trânsito, menos engarrafamentos e mais tempo para trabalho, segundo o mesmo estudo feito em UK.
    • Com menos mortalidade de ciclistas, mais será poupado do sistema de saúde visto que cada internação de um ciclista na média dura 5,2 dias e custa 9,6milhões aos cofres públicos.

     

    Apesar de todos esses benefícios os governantes dos últimos anos em BH e região não parecem enxergar isso. Eu consultei o último plano diretor publicado pelo prefeitura de BH e dos 400km previstos em ciclovias para serem entregues até 2020, continuamos com apenas 103km. Uma vergonha por ser a sexta cidade mais populosa do país e só ganhar de capitais bem menores como Macapá, Manaus e São Luís no indicador Km para cada 100mil habitantes. Além da promessa e não implantação das “zonas 30” em pontos centrais da cidade, onde o limite da via seria 30km/h. Ação já realizada em outros países da Europa com sucesso.

    Nova Lima, uma cidade contornada por trilhas do lado de BH, não tem sequer um plano para construção de ciclovias.

     

    As ciclovias com certeza são a melhor solução no longo prazo, provado por estudos em vários países inclusive no Brasil. Esse estudo feito em São Paulo e publicado em abril desse ano evidencia claramente isso:

     

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    No exemplo paulista, desde 2008 temos disponível o plano cicloviário da cidade que aumentou de 11,6km de malha para 498,3km em 2016, resultando em um decréscimo de 77% na mortalidade de ciclistas no município, mesmo apresentando uma variação positiva no número de viagens em 32% no mesmo período.

     

    Costumo falar que BH e região é a Meca do ciclismo de montanha, mas estamos MUITO defasados em mobilidade, infra-estrutura e segurança do ciclista de estrada e urbano, perdendo uma enorme oportunidade de ser uma cidade referência.

     

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